Diante do anúncio pelo COMITÊ OLIMPICO DO BRASIL -COB, que não sabia, onde colocar o acervo dos JOGOS OLIMPICOS DO RIO DE JANEIRO, realizado em 2016, registramos com muita dor, pois somos olímpicos e, recorremos ao TIME LAMARTINE, pois conheço o trabalho desse MESTRE querido, sendo a maior autoridade nacional e uma das maiores do mundo sobre assuntos olímpicos e solicitamos a ele uma manifestação e ela, para a nossa honra, chegou agora, no momento em que o BRASIL tem a prisão de um EX-PRESIDENTE LULA, e na ânsia de fazer chegar á comunidade, porque está sendo veiculado com texto de qualidade, de quem realmente conhece. Já estamos transcrevendo em nosso site SAÚDE PELA PRÁTICA
FELIZ E HONRADO, pelos nossos leitores, segue o seu artigo.
OBRIGADO MAIS UMA VEZ LAMARTINE.
OBRIGADO MAIS UMA VEZ LAMARTINE.
(CLERY - EDITOR)
VAMOS
SALVAR OU “ESQUECER” A MEMÓRIA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016?
Lamartine DaCosta,
Rio de Janeiro, RJ, 08/04/2016
Tenho sido solicitado a me manifestar
sobre o acervo de informações dos Jogos Olímpicos 2016 como também sobre o projeto
do Museu Olímpico, uma vez que havia – e ainda há – expectativas de ambos se
tornarem legados pós Olimpíadas do Rio
de Janeiro. Também tomei conhecimento sobre o que tem circulado na mídia e nas redes
sociais, com relação aos cinco mil volumes de documentos dos Jogos e ao projeto
do Museu que não encontraram destino até agora, antecipando o risco de serem
simplesmente deixados ao abandono.
Diante dessas circunstâncias, importa
alertar inicialmente que para aqueles familiarizados com as peculiaridades da
cultura nacional, as heranças olímpicas do acervo 2016 e do museu sempre suscitaram
a hipótese de tragédia anunciada. Isto porque o “esquecimento” da memória é um
fato comum presente nas tradições brasileiras,
embora o país tenha historiadores de destaque e de engajamento sócio-cultural.
Não constitui surpresa, portanto, que
tenha se tornado popular nos anos de 1970 o dito de Ivan Lessa – um dos
intelectuais brilhantes do “Pasquim” - de
que "a cada 15 anos o brasileiro esquece o que aconteceu nos
últimos 15 anos". Esta pitada de ironia tem muitos fatos que a
justificam no nosso dia-a-dia porém é no
âmbito do esporte e da educação física que ela ganha frequentemente propriedade. Afinal, foi no
Brasil que houve o incrível
“esquecimento” dos Jogos Olímpicos Sul-Americanos de 1922 –coincidentemente
ocorridos no Rio de Janeiro –, o primeiro megaevento esportivo do país que movimentou um público de 60% da população
da cidade durante a sua realização com seis nações participantes.
E o que dizer sobre Centro Esportivo
Virtual - CEV (Laércio Pereira et al.)
com suas batalhas infindáveis nos dias presentes para preservar documentos e
revelar acontecimentos “esquecidos” de valor históricos em sua área de atuação? E se o exemplo do CEV não for suficiente
podemos citar a epopeia do Atlas do
Esporte no Brasil de 2005 (ver página on-line do Conselho Federal de Educação
Física -CONFEF) que teve mais quatro recriações nos Estados em anos posteriores
(RS, SE, MA e Niterói-RJ), e que desencavou do desconhecimento informações e
documentos em grande escala e por todo o país.
Em resumo, os exemplos do CEV e do
Atlas são inspiradores – como o são hoje vários outros de menor
visibilidade atuantes no esporte
brasileiro – gerando por conseguinte hipóteses de tratamento construtivo dos objetos
de memória dos Jogos 2016. Nestas
condições me permito a fazer sugestões pessoais a partir do projeto gigante do
Atlas do Esporte, iniciativa liderada pelo CONFEF e na qual atuei como gestor entre 2003-2005.
Em primeiro lugar sugiro que se
assuma a preservação da memória dos Jogos 2016 e de sua projeção museológica
como dever cívico e não como “restos” de 2016 sujeitos a um jogo de empurra de
responsabilidades entre instituições e gestores. É claro que neste caso todos
nós brasileiros sabemos que há limitações para a preservação de memória desde
que não tem valor de troca no mundo da política nacional; sabemos outrossim que em nosso país arbitragens jurídicas para
gerenciar os “restos” olímpicos e identificar responsáveis correm o risco de se
alongarem por décadas sem resultados práticos.
Ou seja: se a direção renovada do Comitê
Olímpico do Brasil-COB – aparentemente sendo ele o receptor final dos “restos”
no jogo de empurra já em andamento - resolver assumir atitudes cívicas pondo
nas devidas proporções os exageros de marketing e de vantagens comerciais que
dominaram a administração anterior, então ter-se-á lugar um passo simples mas
fundamental para a solução realista do problema.
Em segundo lugar, ainda na
perspectiva do civismo, sugiro que o novo COB torne-se um efetivo promotor dos
valores olímpicos, seja por dever de ofício (ver “Carta Olímpica”) ou por dar
sentido adequado à sua renovação a fim de atender a atual “Agenda Olímpica
2020” (ver Youtube), também do COI, que busca associar valores tradicionais do
Movimento Olímpico às demandas atualizadas das sociedades e culturas locais. Nesta
visão de empreendedorismo e inovação da Agenda 2020, presumo que o novo COB
possa liderar, sem riscos de contaminação com legados tóxicos, tanto o Acervo
como o Museu, por via da criação de um movimento
de voluntariado. Como tal, este dispositivo de baixo custo reuniria pessoas
físicas e instituições que pudessem viabilizar e criar uma imagem pública dando
sentido prático a uma gestão orientada por valores olímpicos e espírito
esportivo.
E antes que me acusem de sonhador por
ver o esporte por lentes acadêmicas sem realismo prático ou político,
apresso-me em dar conteúdo à minha proposta. Em resumo, a solução do
voluntariado de pessoas e associativismo de entidades esportivas foi a solução
tentada em 2003 no projeto do Atlas do Esporte no Brasil, com liderança do CONFEF e sob minha
responsabilidade gerencial e técnica. Em retrospecto, o projeto do Atlas abriu
voluntariado para sua criação e recebeu mais de 500 adesões quando se previa
200, o que nos obrigou – eu e o corpo editorial, também formado por voluntários
- a selecionar interessados em se tornarem autores de uma centena de capítulos
planejados.
Ao final, três anos depois, a obra somava
410 autores voluntários e 300 capítulos, manejando cerca de três mil arquivos
distribuídos em vários repositórios eletrônicos. Com o Acervo Atlas organizado
partiu-se para a busca de adesões das instituições de esporte – antigo COB
inclusive – para a as tarefas de editoração e impressão, surgindo finalmente um
compartilhamento de despesas com 14 entidades do esporte e educação física
nacionais.
Claro está que o Acervo e o Museu herdados
dos Jogos de 2016, são diferentes do Atlas 2003-2005 em seus propósitos e
necessidades operacionais, mas se tornarão muito próximos em termos de
procedimentos e tecnologias, se a opção de voluntariado for levada em conta. Em
outras palavras a metodologia usada no Atlas foi de fatiamento em módulos das
operações, distribuindo-se as fatias em linhas de tempo e atribuindo funções de acordo com as possibilidades de
cada voluntário e, em estágios mais adiantados, a cada entidade com
disponibilidade de recursos e meios de suporte.
Este método – hoje mais recomendado
por indução das crises econômicas do
país - implica em progredir de acordo
com as disponibilidades, geralmente oscilantes num ambiente de recursos escassos,
e com apoio da informática para acompanhar e controlar tarefas. Como tal, há prolongamentos
na duração das operações, por vezes surgindo imprevisibilidades, porém se trata
da desvantagem advinda do uso do voluntariado com seus custos baixos ou mesmo
nulos.
Cogitando-se do lado positivo da
modulação, a experiência do Atlas mostrou que a autonomia típica do voluntariado – pessoas e entidades – mostrava-se
então redefinida ou descoberta sucessivamente por cada fatia, o que afinal apresentava resultados relevantes ou de modo
surpreendente. Outra constatação foi a de que as mulheres – tanto autoras como
editoras - eram bem mais eficientes do
que os homens no trato dos fatiamentos e nos arranjos de adaptação às
disponibilidades de recursos e mão de obra no tempo e no espaço.
Em contas finais cabe informar aos
novos líderes do COB que os ímpetos de inovação e empreendedorismo do Atlas
ressurgiram recentemente, por criação autônoma e mais avançada em termos de
gestão, no projeto do eMuseu Nacional do Esporte. Esta entidade está atualmente
em implementação no Velódromo do Parque Olímpico -RJ sob liderança de Bianca
Gama Pena da UERJ e por meio de vários suportes iniciais da Autoridade de
Governança do Legados Olímpico – AGLO.
Hoje o projeto do eMuseu está
avançando por fatiamento e por fases incluindo mais de uma dezena de parcerias,
cujos compartilhamentos apoiam-se em adaptações às possibilidades operacionais e financeiras.
Neste particular, e já me espelhando no eMuseu, sugiro finalmente que o novo
COB lidere o salvamento do Acervo 2016 e
do projeto do Museu Olímpico simplesmente dando partida a um projeto de
voluntariado e modular, de custos
limitados à existência de disponibilidades financeiras. As etapas posteriores
do projeto – não importando seus prazos alongados - dependerão naturalmente de sucessivas
negociações em tempo e ritmo próprios. Também recomendo uma associação com o
projeto do eMuseu do Parque Olímpico -RJ que poderia trazer vantagens para
ambos empreendimentos.
De resto, permito-me trazer à atenção
dos novos dirigentes do COB que há um espírito esportivo – às vezes emergindo
como “olímpico” – latente no país em que pese os desvios de esquecimento do
passado e as possíveis mazelas dos gestores dos Jogos 2016. Este espírito
explicaria a sobrevivência do CEV, o voluntariado do Atlas e as atuais parcerias
do eMuseu.
Diante desses exemplos, cabe
perguntar finalmente, com a devida vênia e respeito: podemos admitir que o novo
COB estaria perdendo uma boa oportunidade de sincronia com o espírito esportivo
nacional ao optar pelo “jogo de empurra”
que hoje ameaça a memória olímpica 2016?
Ou será que estamos todos – nós
esportistas brasileiros e o novo COB - diante mais uma vez de oportunidades que
estão sendo compreendidas como problemas? Afinal, poderemos ou não, TODOS
UNIDOS salvar a memória dos Jogos Olímpicos de 2016, convocando a participação relativa
de cada um?
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