Cheerleading, um novo capítulo na história do esporte no Brasil
O número de equipes da nova modalidade esportiva é crescente,
mas as dificuldades são inerentes à falta de regulamentação e estrutura.
Já está reconhecido pelo COI, como 36a. modalidade olimpica.
Heloir C. Schwaickardt
“Ah é dança. É dança com sainha e pompons. Legal é quando sobem uns
em cima dos outros!”. A falta de informação sobre algo novo geralmente
cria estigmas e preconceitos, e com o Cheerleading não é diferente. Será
que é dança mesmo? A rotina de preparo físico de um Cheerleader é
composta por treinos semanais de musculação, exercícios de movimentos de
equipe, chamados de Stunt – em que 4 ou 5 pessoas fazem manobras de
elevação da flyer, a garota que vai às alturas. Ainda têm os treinos de
ginástica e, às vezes treino na modalidade de competição individual,
Best Cheer (O melhor Cheerleader). Não acaba por aí: os atletas também
realizam exercícios de força, sincronia e movimentos de todos os Stunts
juntos para a construção de uma rotina de apresentação para competição e
animação de torcida.
Quem vê uma apresentação de Cheerleading costuma ficar impressionado,
mas por trás dos belos movimentos de força e sincronia, as equipes
costumam enfrentar além do esforço que é manter práticas de exercícios
diários, alongamentos e cuidado com a alimentação, dificuldades com a
conciliação de horários, encontrar um coach/treinador qualificado,
encontrar um ginásio ou gramado para o treinamento, além de terem que
desenvolver iniciativas para captação de custos, pois o apoio de
patrocinadores é raro até em outros esportes mais populares.
Existe a distinção entre equipes escolares, universitárias e All
Star, pois são as categorias que dividem as equipes nas competições. Nas
equipes escolares e universitárias os estudantes devem conciliar o
esporte e os estudos, o que torna ainda mais complicado. Mas nem todos
os cheerleaders têm essa rotina de conciliação com os estudos, pois são
de equipes Allstar, formadas por pessoas que não estão ligadas a uma
universidade ou escola e, por isso, mantém a atividade como parte de sua
vida como esporte ou hobby. Em uma equipe All Star a cobrança pela
dedicação e pelo compromisso é mais rigorosa e, por isso, o resultado
costuma ser de alto nível, de acordo com Fábio Camargo, arquiteto e
cheerleader da equipe Spirit of Titans de São Paulo.
Fábio é um bom exemplo de como o esporte está no Brasil, as
dificuldades de prática, mas também como tem potencial para melhorar.
Por meio de investimentos próprios, ele é Cheerleader desde 2010 e já
chegou a disputar o Campeonato Mundial
Mundial nos anos de 2016 e 2017 com a equipe brasileira – Team Brazil
de Cheerleading. “Participar do Mundial foi um sonho realizado, sempre
quis! A preparação foi bem difícil, pois os treinos foram no Rio de
Janeiro, e não tem nenhum patrocínio. É complicado, por que você tem que
arcar com tudo”, explica. Ele conta que somando as despesas dos
treinos, da viagens e tudo mais, chegou a gastar cerca de 8 mil reais em
cada processo de preparação e para ir aos mundiais. “Mas no final tudo
vale a pena. Sinceramente, o Mundial foi o auge da minha vida!”, relata o
jovem de 25 anos.
Stuns, tumblings, jumps, pirâmides, dance, motions, toe touch e muitos outros são os termos que denominam os elementos utilizados pelos cheerleaders. Os Stunts
e as pirâmides são o deleite de todos. Quando são formadas as pirâmides
humanas, cheers, uns em cima dos outros, é exaltação na certa! Existe
muita técnica envolvida e repetições para conseguir realizar algo assim,
além, é claro, das quedas e dos machucados. Os Tumblings são as
piruetas, mortais e acrobacias dignas da ginástica artística. Os jumps
são os saltos em formação e em sincronia, com braços e pernas
precisamente posicionados de acordo com os direcionamentos dos motions (Corpo em forma de X, ou T, ou K, ou V, etc). O dance
compõem a transição entre movimentos durante uma apresentação com
passos de dança. Ademais, são muitos os movimentos que fazem parte das
práticas e do vocabulário do Cheerleading, um universo de atividades
físicas em que dá até para aprender um pouco de inglês como se pode ver.
Participação do Brasil no Mundial deste ano
A propósito, o Cheerleading é um esporte e sua origem data de 1869,
nos Estados Unidos, quando homens animavam as equipes e as torcidas
universitárias durante os jogos de futebol americano, basquete e Rugby,
segundo a International Cheer Union-ICU,
atual instituição que regulamenta o Cheerleading e promove o Campeonato
Mundial de equipes. Até 1948, o Cheerleading era uma tímida atividade
recreativa presente em algumas escolas e universidades norte-americanas,
foi a partir da metade do século passado que ele incorporou novas
técnicas, as acrobacias, passou a ter transmissões de campeonatos pela
televisão, começou a ser praticado em outros países e foram criadas
organizações como a Universal Cheerleaders Association-UCA, entidade que
promovia o Cheerleading nos EUA para regulamentá-lo em âmbito mundial.
O Cheerleading chega à América do Sul pelo Chile, em 1994, quando os
entusiastas Rodrigo Anguita e Irma Olvares Cea, solicitaram à UCA para
que ajudassem a introduzir a atividade no país. De lá pra cá, a
organização “Cheer Chile”, em parceria com a UCA, treinou milhares de
cheerleaders em todo o país, e o esporte começou a se espalhar por todo o
continente. No Brasil, existem registros de que a prática começou a
engatinhar a partir de 2008, conduzida Comissão Paulista de
Cheerleading.
Um marco importante na história do esporte foi a participação na
cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 1996, realizados
em Atlanta, Geórgia, EUA. Outro fato relevantena divulgação do
Cheerleading foi a série de filmes “Bring It On” – renomeada como As apimentadas
(2000) no Brasil, parece brincadeira, mas é por meio filmes e séries
estrangeiras com temática sobre o Cheerleading que muitas pessoas tomam
conhecimento do esporte. O fascínio pelas possibilidades de execução da
prática, que envolve ginástica e dança, podem parecer efeitos especiais,
mas são de verdade. Seguindo pela história do esporte, em maio de 2013,
o SportAccord admitiu a
International Cheer Union-ICU como seu 109º membro e assim a ICU
tornou-se oficialmente o órgão mundial responsável pelo Cheerleading em
todo o mundo. Sendo que desde 2004, ocorre o Campeonato Mundial de
Cheerleading ou “Cheerleading Worlds”, no Walt Disney World Resort. Em
2017, foi realizada a 14º edição com nações de todos os continentes e o
Brasil ficou em 12º na categoria de Coed Elite (Equipe de alto nível,
adulta com homens e mulheres). Nada mal para um país onde esse esporte
não é tradição.
No ano passado, o Comitê Olímpico Internacional passou a reconhecer o
Cheerleading como esporte oficial. Mas infelizmente não vai ser na
próxima olimpíada que você vai ver cheerleaders no programa competitivo,
pois o processo para virar modalidade olímpica demora alguns anos. Como
mostra o PlayGroundBR, “as acrobatas do impossível deixarão de ser consideradas uma animação recreativa para voar mais alto que o santuário de Zeus”.
No Brasil, o crescimento do Cheerleading passa por uma fase de
disseminação considerável e já existem mais de 100 equipes e diversos
torneios e campeonatos anuais. No entanto, ainda não há uma entidade
oficial que regulamente e fiscalize o esporte, que seja reconhecida pelo
Comitê Olímpico Brasileiro-COB ou pelo Conselho Nacional do Esporte,
prejudicando o desenvolvimento das atividades. No entanto, algumas
organizações independentes tomam a frente de organizar os eventos,
desenvolver, auxiliar e contribuir com a equipes, desde orientações
iniciais quanto formação de coaches/treinadores.
De acordo com Rodrigo Gonçalves da Silva, presidente da União Brasileira de Cheerleading,
entidade que é filiada junto a International Cheer Union –ICU, pioneira
na promoção do esporte em âmbito nacional (Desde 2009), “atualmente
funciona como uma associação desportiva que não tem um contato formal
junto aos órgãos federais, mas que busca o reconhecimento por meio dos
padrões legislativos para poder ser reconhecida como a responsável pelo
esporte no país”. Advinda de uma comissão criada para divulgar o
Cheerleading no estado de São Paulo em 2007, tornou-se centro nacional
de respaldo sobre o esporte porque não havia ninguém que tratasse sobre.
Após uma pesquisa sobre o Cheerleading no território nacional, quando
órgãos administrativos norte americanos e alguns sul americanos, na
Colômbia e no Equador foram consultados e, posterior contato com a ICU,
verificou-se que não havia nenhuma entidade responsável pelo esporte no
Brasil.
Praticar esportes regulamentados ou com o mínimo tradição é
complicado no Brasil, falta estrutura, falta patrocínio, falta
incentivo, muito diferente do que acontece em outros países como nos
EUA, onde até o esporte universitário é supervalorizado. Imagine então,
para um esporte que está no início como o Cheerleading, cuja estrutura
ainda é precária, falta regulamentação e orientação oficial. De acordo
com Cedrick Willian da Silva, coach e treinador formado pela UBC, com
anos de experiência com dança, ginástica e Cheerleading, “a organização
e o reconhecimento do esporte poderia melhorar a acessibilidade, dar
incentivo para criação de novas equipes, promover suas atividades e
oficializar o título do campeonato nacional”. Ele ainda aponta para o
detalhe interessante de que “o Cheerleading é um dos únicos esportes em
que homens e mulheres podem competir juntos, fazendo parte de uma mesma
equipe e, isso é maravilhoso!”.
O esporte não exige muitos equipamentos, mas envolve risco e precisa
de um mínimo de estrutura, na melhor das hipóteses um solo de ginástica
ou tatame de artes marciais, para caso ocorra alguma queda, não tenha
machucados graves. Atualmente quem pratica, se arruma do jeito que dá,
poucos são as equipes que têm um espaço específico de treino. Não dá
para ficar sem treinador, só que este é difícil de encontrar, pois ainda
são poucos
O Cheerleading pode ser considerado instrumento de inclusão social
por meio da prática coletiva de esporte, pois as pessoas desenvolvem
trabalho e espírito de equipe, assim como em outros esportes coletivos.
Mas dedicação e responsabilidade são indispensáveis, deve-se pagar as
mensalidades que não é um valor alto, mas o uniforme é caro, e uma
política de popularização de produção e consumo de artigos de
cheerleaders poderia colaborar para melhorar a situação e certificar uma
melhor qualidade dos produtos.
Ajudar a equipe quando necessário e criar uma agenda para respeitar
os horários de treinos e o seu corpo. O Cheer incentiva e anima as
torcidas para o engajamento de outros esportes. Exercita músculos e o
modo de relacionamento das pessoas. Caminha em duas vias, o próprio
desenvolvimento como esporte e a animação de torcida que faz parte das
competições, por vezes até decisiva. Ótima oportunidade para engajar
grupos, criar espírito de equipe, habilidades e saúde que um esporte
pode promover.
É um novo esporte, que encanta pela prática e pelo desempenho físico.
Para uma apresentação que costuma durar dois minutos, no máximo três,
são meses de muito preparo e treinamento, o momento é de muita emoção e
explosão. Para o atleta, tudo faz sentido quando se consegue realizar os
movimentos e sentir o retorno de excitação do público. Enquanto
espectadores e torcida, podemos sentir emoção que faz arrepiar e não
vemos a hora para a próxima apresentação.
Esporte Feminino? E para onde vai?
Apesar do esporte ter nascido como uma prática masculina, hoje são as
mulheres que estão à frente. Segundo a ICU, atualmente as mulheres
compõem mais de 90% dos cheerleaders no mundo. Elas sempre tiveram
presença, mesmo que menor, nas equipes das décadas de 30 e 40, no
entanto foi durante o período da segunda Guerra Mundial, quando os
estudantes universitários foram convocados para servir, que a presença
feminina passou a ser majoritária e segue até hoje esta propensão, sendo
também reforçada pelo machismo que estigmatiza a ideia de que o esporte
é feito somente por e para mulheres, afastando a aptidão por novos
atletas rapazes. Ambos são importantes para uma equipe de modo gerale a
diferença pode ser observada durante as apresentações
como o Campeonato Mundial, em que tanto as mulheres quanto os homens
têm funções específicas e devem desempenhar com excelência.
Sobre esta perspectiva, Rodrigo Gonçalves aponta que existe um
preconceito sobre o esporte, uma ignorância vencível, por aqueles que
não tem noção do que seja. “Eu converso com diversas pessoas por e-mail,
vídeos conferências, telefônicas e outras formas de comunicação e a
maioria não tem noção do que seja o Cheerleading. Estas pessoas não
sabem que é um esporte, que há campeonatos mundiais. Não tem ideia de
que há um Campeonato Nacional desde 2011”, relatou em entrevista. “Tenho
a certeza absoluta que o Cheerleading será um dos esportes mais
praticados no Brasil num prazo de 15 a 20 anos”, finaliza, otimista, o
presidente da UBC.
O treinador Cedrick Willian adverte que esta situação envolve
machismo, pois por ignorância relacionam o Cheerleading com a dança e
dança com pompom, logo coisa de menina, um preconceito. “Podemos
observar que em equipes profissionais de níveis avançados, a maioria dos
times é composto por mais homens porque os exercícios são muito
difíceis, não que as mulheres não consigam fazer, mas é mais difícil de
alcançar porque precisa de muita força muscular, e por isso é
naturalmente mais difícil para as mulheres fazerem”, explica. Então
observa-se a presença de mais homens fortes, que são as bases e, meninas
mais baixas, magras e fortes que são as flyers. O cheer é um esporte
masculino e feminino, é misto, e é um dos poucos que abre esta
possibilidade de prática conjunta.
Fábio Camargo também acredita que é preciso avançar. “Por aqui as
coisas são muito difíceis, nossa senhora! Mas tenho boas esperanças de
que melhorem e de que o esporte vai crescer muito ainda no Brasil, basta
a UBC se aprimorar e dar a devida organização que merecemos”. E sobre o
preconceito de homens no esporte ele diz que “esse estigma de que
somente meninas são cheerleaders, é besteira! Salvo respaldo de que o
Cheerleading foi criado por homens e quem pratica sabe a diferença que
faz uma base masculina”.
NOTA DO EDITOR - Recebemos uma mensagem da professora CARMEM , presidente do CREFRS e fomos fazer algumas buscas e estamos trazendo, um pouco do seu histório. A respeito de ser um esporte olímpico, apesar da sua plástica, que enche os olhos, não é bem assim, pois tem a exigência da CARTA OLIMPICA - se bem que hoje tem outros interesses. Aguardemos. Mas que é lindo o é. ( CLERY - EDITOR )
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